Recentemente enquanto jantava, uma pessoa entrou educadamente com vários livrinhos, tipo cordel, oferecendo-os por dois reais. Intitulou-se poeta e entregou-me sua arte para que pudesse olhar. Estava vestido de forma simples, com a calça do trabalho, provavelmente, e uma camisa polo. Esqueci de mencionar, mas isso ocorreu as dez horas da noite de uma quarta feira.
Folheei os escritos e resolvi dar-lhe uma chance. Pedi que recitasse um dos seus poemas. A transformação do seu semblante foi visível. Os olhos se iluminaram, a expressão suavizou e ele abriu um enorme sorriso. Perguntou-me qual poema gostaria de ouvir. Qualquer um condizente com seu momento espiritual, respondi. Sem olhar para o livrinho ele iniciou: "Vida Feliz".
A vida feliz
Que no íntimo desejo
Está debaixo do meu nariz
Mas não a vejo
Por estar sonhando
Idealizando a vida que sempre quis
Hoje vi
Quando quase perdi
Algo que sempre amei
Mas nunca notei
Coisas que sempre estão lá
Perfeitamente no mesmo lugar
E que por isso parecem insignificantes
Pessoas com que discutimos
Palavras que não ouvimos
Mas que são tão importantes
Momentos normais
Momentos banais
Parece uma perda de tempo a mais
Agradeço os momentos
Em que apenas se vive
Se perdesse o que tão pouco valorizo
Sei que daria tudo que idealizo
Só pra ter o que sempre tive
A felicidade tem que ser vivida
E não apenas desejada
Se não ela passa despercebida
E só lembramos das desgraças
Valeu por não precisar dar nada
A felicidade é de graça.
(Zenildo César, Natal-RN)
O poeta não sabe, mas tocou fundo meu coração, pois seu poema era exatamente o que aquele singelo jantar estava representando. Agradeci, perguntei seu nome, idade e paguei quatro reais pelo livreto.
1 comentaram:
Não só à você.
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